quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O PROJETO RADIOJORNAL CURTOCIRCUITO


“A existência, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo”.
(Paulo Freire, 1995)

A histórica distorção sobre a função social do rádio no Brasil e, principalmente, o atual império das reproduções eletrônicas de imagens na mídia, transmite uma falsa impressão, justamente, por se tratar de um “veículo cego”, de que o rádio é um meio de comunicação inferior ou que mesmo já haveria alcançado o seu estágio limite. No entanto, observamos o desenvolvimento da Educomunicação, nos últimos anos, como um campo de intervenção social que procura incluir a comunicação no processo da mediação educacional. Nossa proposta de ‘educomunicação’ aqui defendida toma entre suas orientações os estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (UCA/USP), balizadas pela consolidação teórica do Prof. Ismar de Oliveira Soares (ECA/USP) autor do projeto “educom.rádio” (Educomunicação pelas ondas do rádio).
Múltiplos projetos de educomunicação já estão sendo disseminados com sucesso pelo Brasil. Entre os objetivos dessa intensa atividade, uma constante é a contribuição para construção dos valores da cidadania e da garantia de direitos. Pois é, justamente, a partir do conceito de cidadania que se insere o debate sobre a função social do rádio nos ambientes de ensino. Pressupondo-se que cidadania não é algo que se ganha, mas que se constrói a partir de sensibilização, conscientização, mobilização de indivíduos transformados em sujeitos históricos cientes de sua própria condição. Por meio da criação de ecossistemas comunicativos podemos possibilitar que jovens estudantes compreendam o papel das mídias para estimular a transformação de indivíduos “consumidores” em potencial das tecnologias de comunicação e informação em cidadãos, visando um mundo mais justo, igualitário, ético e responsável.
Característica elementar que nos faz pensar na produção do rádiojornalismo nos ambientes educacionais como um recurso pedagógico privilegiado, que através da apropriação dos meios torna-se um registro da identidade histórica e cultural e, ao mesmo tempo, uma construção do discurso simbólico de identidade dos próprios sujeitos sociais. Justificamos, assim, o uso da produção (linguagem) radiofônica como alicerce da criação de um ecossistema comunicativo aberto, dialógico e criativo, inserido no campo das diretrizes pedagógicas. Propomos a criação do Rádiojornal Escolar Curto-Circuito, para que reforce a construção de um modelo de comunicação democrática e co-participativa, ao mesmo tempo em que fortaleça a auto-estima de seus participantes por intermédio de sua expressão; e, ainda, que desenvolva o conceito de gestão comunicativa, na qual quem recebe informação perceberá que a comunicação precisa ser planejada, administrada e avaliada, coletivamente.
Nossa proposta de educomunicação, pretende instaurar uma programação de rádiojornalismo em determinado espaço educacional, através da formação cidadã de 15 jovens estudantes da rede pública de ensino, num período inicial de 6 meses, para que adquiram habilidades em comunicação para motivar a cultura de respeito aos direitos humanos, inclusive o direito à comunicação. Assim, pretendemos potencializar suas capacidades e habilidades, para que estes jovens tornem-se sujeitos com potencial para adquirir o respeito à diversidade de opiniões e aprender a ouvir e decidir coletivamente.
Neste sentido este projeto busca capacitar alunos e professores para uso de novos recursos tecnológicos de comunicação nos processos educacionais. Na área da gestão comunicativa, propriamente dita, voltada para o planejamento, execução e realização de políticas de comunicação educativa nosso objetivo é a criação e o desenvolvimento de ecossistemas comunicativos mediados pelos processos de comunicação e por suas tecnologias para a comunicação estreitamente relacionada ao cotidiano da vida social. Ou seja, utilizar a ação comunicativa e dialógica, como estratégia para promover a comunicação, a expansão da democracia e da cidadania a partir da idéia da construção do conhecimento em bases comunicacionais. Nos assuntos relacionados à avaliação das atividades nossa orientação será balizada nos objetivos e metas do Projeto Político Pedagógico Escolar.

APRESENTAÇÃO


A comunicação (como procedimento de inteiração humana) é o principal fundamento do processo educativo. No entanto, ainda que a produção radiofônica, na perspectiva da educomunicação[1], continue a ser um desafio aos profissionais atuantes nas áreas de educação e comunicação[2], observamos com satisfação o avanço deste campo de intervenção social, que busca aliar a comunicação à educação e à participação, para constituir-se como estratégia capaz de fundamentar práticas de uma formação cidadã.
O Projeto Rádiojornal Escolar Curto–Circuito entende que a escola, como um espaço complexo de comunicações, deve oferecer suporte teórico-metodológico, que permita aos alunos compreenderem a importância da ação comunicativa para o convívio social e para a produção do conhecimento[3].
Neste sentido, a escola já não pode mais desconsiderar ou ignorar a onipresença das mídias no cotidiano do educando. Mas, ao contrário disso, ela deve se tornar dinâmica e avançar na utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), privilegiando atividades significativas para os estudantes. Esta nova escola não pode se limitar à dimensão dos conteúdos, deve ir além e transmitir e vivenciar valores, por meio de práticas educativas e estar presente na vida dos alunos, de forma construtiva, emancipadora e solidária; buscando “criar espaços para que o aluno possa compreender ele próprio na construção do seu ser, ou seja, a realização de suas potencialidades em termos pessoais e sociais” (COSTA, 2000). Desta forma, a escola deve ir além e a partir de uma perspectiva dialética, deve denunciar, mas também anunciar o uso dos meios como metodologia participativa na construção de conhecimentos, e resposta social à presença massiva da mídia em nossas vidas, como garantia da visibilidade da cultura popular e como garantia de vez e voz aos grupos que não têm acesso à produção nos moldes da indústria cultural.
Objetivamos contribuir para a formação cidadã e capacitação técnica de crianças e adolescentes da rede pública de ensino do estado do Pará, por meio de estratégias de comunicação e de processos participativos. Propomos, assim, a construção de ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos, quebrando a hierarquia na distribuição do saber, justamente pelo reconhecimento de que todas as pessoas envolvidas no fluxo da informação são produtoras de cultura, independentemente de sua função operacional no ambiente de ensino. Sabemos, ainda que intrincada e abrangente em sua concepção, esta idéia deverá ser introduzida a partir das condições específicas que caracterizam os diferentes ambientes de ensino e, especialmente, a partir das alianças possíveis de serem feitas entre outros agentes sociais que atuam neste espaço - visto que, o ecossistema comunicativo (no sentido de rede social) estará sempre, e necessariamente, em construção e o seu aperfeiçoamento dependerá sempre da forma como o tema é introduzido.
[1] A educomunicação é um campo de intervenção social que propicia a introdução de recursos da informação no ensino, não apenas didáticos (tecnologias educativas), ou como objeto de análise (leitura crítica dos meios), mas principalmente como meio de expressão e de produção cultural, permitindo desenvolvimento de ecossistemas comunicativos abertos à participação de todos.

[2] Observamos que a inter-relação entre a comunicação e a educação permite desenvolver e aprimorar metodologias de uso das tecnologias da informação e da comunicação nos processos educativos, assim como estimular crianças, adolescentes e educadores utilizarem a mídia como instrumento de mobilização e crítica social. Diversos processos de educomunicação já estão sendo difundidos, no Brasil, por instituições de ensino e pesquisa, iniciativas da sociedade civil e órgãos governamentais. O objetivo principal dessas atividades é contribuir significativamente no processo de construção da cidadania, do exercício de direitos e deveres e de uma sociedade mais justa – a partir do exercício do direito à expressão e à comunicação. Fonte: Mídia & Educação – comunicação responsável para promoção de cidadania.

[3] Sobre esta questão, vale ressaltar, que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/86, as Diretrizes Curriculares e os Novos Parâmetros Curriculares Nacionais já incluem os meios de comunicação social no espaço escolar, propondo ao educador trabalhá-los interdisciplinarmente.